YOGA SUTRA DE PATANJALI – PARTE 6 – SAMADHI

Este texto faz parte do nosso estudo sobre Yoga Sutra de Patanjali. Se você não leu os posts anteriores, sugiro que leia para que possa ter um entendimento mais claro sobre o assunto. Se quiser aprender mais profundamente este tema, pode se matricular no nosso curso de Formação e Aprofundamento em Yoga, onde abordamos este assunto com mais detalhes. Além do que, ouvir o professor é essencial neste estudo. Nos posts anteriores falamos sobre abhyasa e vairagya. Através deles, os yogis alcançam o seu objetivo.

SAMADHI

O assunto deste post é muito falado e pouco compreendido pela maioria dos praticantes de Yoga. Primeiro por ser necessário um estudo mais aprofundado das escrituras sagradas, junto com um professor tradicional e segundo porque sem a vivência, não conseguimos completo entendimento.

O samadhi é o oitavo passo descrito por Patanjali no Ashtanga Yoga, o caminho das oito partes. (não confunda Ashtanga Yoga de Patanjali, que é descrito no Yoga Sutra e é o objeto do nosso estudo, com a prática de Hatha Yoga chamada Ashtanga Vinyasa Yoga, criada por Pattabhi Jois)

Samadhi é a percepção superconsciente. Depois de muitos samadhis, o yogi pode alcançar o samadhi final, que podemos chamar de moksa. Neste momento acontece a realização final do yogi, onde ele finalmente se mantem estabelecido em sua própria natureza, que é livre de limitação. Isso é alcançado através de uma vida de Yoga exposta por Patanjali. É um estado alterado da mente em que o yogi experimenta a suprema alegria, a paz e o entendimento claro de quem realmente é. 

É alcançado através da meditação profunda e silenciosa, ou devoção intensa. Existem alguns casos de samadhis iniciais espontâneos, mas sem a prática e estudo, eles não perduram.

Um yogi alcança samadhi pelo esforço realizado nesta vida, e nas vidas anteriores, já que nada do que fazemos nas outras vidas é perdido! Carregamos nossa própria bagagem, que pode estar cheia de ignorância ou cheia de conhecimento.

Um verdadeiro guru auto realizado tem o poder de proporcionar samadhi ao seu discípulo, se assim entender necessário. O guru dissipa a escuridão e remove a ignorância do seus discípulos. Por isso é importante ao praticante que atualmente alcança os estados de samadhi iniciais, que não se intitule um guru. Ele deve continuar a prática e se lapidar para que possa realmente remover a ignorância dos que estão a sua volta.

Paramahansa Yogananda nos ensina que quando o praticante de Raja Yoga alcança o estado de meditação (dhyana) e se estabelece nele, ou através de devoção profunda, chega a um estado de samadhi chamado de savikalpa samadhi. Este estado pode se apresentar de muitas maneiras, mas algumas características sempre iguais como: o praticante tem a consciência das manifestações de Isvara na forma de amor, luz, alegria … mas neste estado exclui-se a consciência do corpo e do mundo. Aqui sempre acontece a imobilidade corporal combinada com as realizações divinas internas. 

Então, os samadhis iniciais nos deixam imóveis, sem controle do corpo… já viram as fotos de yogis que parecem estar desmaiados? Eles estão em savikalpa samadhi.

Por isso, quando sentimos sensações maravilhosas, como se tudo fosse perfeito, mas ainda estamos andando, sorrindo, ou fazendo qualquer outra coisa, não estamos em samadhi! Esses estados podem ser melhor definidos como santosha, um estado de contentamento. O sabikalpa pode ser de várias formas, no sentido do aumento de entendimento em cada um dos samadhis alcançados. Mas sempre teremos o corpo imóvel.

Alcançando estados de samadhi iniciais, o praticante deve continuar a meditar e se purificar até que alcance nirvikalpa samadhi, onde o yogi passa então a ter total entendimento sobre si mesmo e o Todo. Aqui é atingida a perfeição e o yogi pode ficar ou não encarnado, dependendo de sua missão. Ele encontra moksha, a libertação do ciclo de renascimentos. A reencarnação de um ser neste estado é uma opção para ajudar o nosso planeta. Aqui, avidya vai embora e abre espaço para a clareza. 

Mestres como Paramahansa Yogananda, Swami Sivananda, Swami Dayananda, Ramana Maharishi, Lahiri Mahasaya, Swami Sri Yukteswar, Anandamayi Ma, Daya Mata, dentre outros, viveram entre nós neste estado.

CLASSIFICAÇÃO DOS ESTÁGIOS DE SAMADHI

Primeiramente devemos entender a definição do termo sânscrito pratyaya. Pratyaya é qualquer conteúdo da mente, em qualquer momento. Então, qualquer pensamento ou imagem mental é um pratyaya.

I-17  VITARKA-VICARANANDASMITANUGAMAT SAMPRAJNATAH Samprajnata samadhi é aquele que ocorre depois dos samadhis: por raciocínio, reflexão, bem aventurança e sentido de puro ser (estar consigo mesmo) Patanjali nos apresenta aqui, quatro tipos de samadhis.. Podemos entender como estágios de recolhimento da consciência para seu centro, ou seja, quatro estados da mente: (1) vitarka (“com dúvida ou suposições”): experiência intuitiva misturada com uma mente argumentativa ou duvidosa;  (2) vichara (“com raciocínio ou ponderação”): experiência intuitiva misturada com intelecto, através da análise do que é real e do que é irreal.  (3) ananda (“com alegria”): experiência intuitiva interiorizada de um sentimento permeado pela alegria consigo mesmo.  (4) asmitarupa (“com individualidade”): experiência intuitiva misturada com a permanência consigo mesmo. Esses quatro estados, que vêm depois da interiorização (pratyahara), são o resultado da concentração profunda (dharana), ou percepção superconsciente limitada ao corpo. (Yoga Sutras 1:17) 

I-18 VIRAMA-PRATYAYABHYASA-PURVAH SAMSKARA-SESO NYAH

Existe outro, caracterizado pela presença de samskaras e precedido de repetições 

Patanjali define os estados de samadhi em sua classificação de acordo com os vários estágios da meditação silenciosa. 

Nos Sutras 1: 17-18, ele se refere a duas categorias básicas de samadhi: 

1. samprajnata = sabikalpa = com diferença entre sujeito e objeto

2. asamprajnata = nirbikalpa = sem diferença.

Em samprajnata samadhi há um pratyaya, que chamamos de ‘semente’, no campo da consciência e a consciência é dirigida para ele de alguma forma. Não é possível manter totalmente a consciência interna, pois há uma semente ‘externa’ que atrai a atenção para ela. Samprajnata  refere-se a savikalpa samadhi, que comentei anteriormente, ou união divina na qual permanece alguma distinção entre o ‘conhecedor’ e o ‘conhecido’. Aqui o yogi ainda não está totalmente liberto. Em maior ou menor grau, a semente de avidya permanece. 

Já em asamprajnata samadhi, todas as diferenciações da natureza são resolvidas no único Espírito.  Aqui não há semente, ou seja, não há nada que tire a atenção do interior para o externo.

Acontece, então, a plena realização da verdade absoluta: Deus é a única Realidade. Assim, asamprajnata, em sua definição absoluta, é nirvikalpa samadhi, a união mais elevada manifestada por mestres totalmente libertos. 

Mas, asamprajnata é mais intenso do que samprajnata? Em termos da intensidade da concentração, ambos são equivalentes. A única diferença é a ‘semente’. 

Um yogi passa diversas vezes de samprajnata para asamprajnata. Cada degrau que sobe no samadhi, ele sai de samprajnata, e entra em asamprajnata momentaneamente, mas como as sementes estão dentro dele em diferentes camadas, o yogi volta ao samprajnata samadhi até que consiga superar a nova semente.

Quando entra em asamprajnata samadhi, a sua mente está totalmente desligada do mundo exterior. Até que novamente surja algum samskara que perturba a mente do yogi, causado por avidya, e o leve de volta para o exterior. Isso acontece até que seja alcançada a última etapa, e o yogi encontre o seu objetivo: a libertação. 

Quando o yogi está aprendendo a técnica do samadhi, precisa se dedicar muito a cada plano antes de tentar passar para o plano superior seguinte. Seu progresso não depende apenas do seu esforço nesta vida, mas dos esforços realizados em suas vidas anteriores. 

A ciência do Yoga não é dominada em uma unica vida… o yogi deve ter a paciência, persistência e devoção ao Yoga para evoluir em seu caminhar.

Como disse Taimni: “E os impacientes, que não podem adotar esta remota expectativa, ainda não estão qualificados a ingressar nessa senda e progredir firmemente na direção do seu objetivo”.

Este é um dos temas mais complexos do estudo do Yoga. Mais importante do que entender a sua existência e estágios, é a vivência real deste estado, pois é um dos conhecimentos que não podem ser transmitidos apenas em teoria. Para entendimento completo, é necessária a vivência. Então, pratique yogin!

Abordaremos o tema ‘samadhi’ novamente em alguns sutras posteriores. 

Enquanto estudamos, devemos continuar a praticar, para que o estudo se torne claro e melhor absorvido.

Jay Gurudeva!

Namaste

Juli Campesi

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