Vairagya – o segundo meio utilizado para produzir a restrição das atividades da mente, os citta-vrttis.
Vairagya é derivada da palavra sânscrita raga. Raga é definida no sutra II-7 como atração que surge do prazer que se origina de qualquer objeto. Vairagya é a AUSÊNCIA dessa atração por objetos que dão prazer e pode ser definido como DESAPEGO. Esse desapego, que é uma ausência da necessidade desejos, dá ao praticante uma vida de liberdade, pois apesar de desejar ainda, ele não sente necessidade de nada e vive com o coração leve em busca da auto-realização.
Existem estágios de vairagya. No início, o praticante aparentemente não tem mais apego, mas as raízes do apego permanecem. Enquanto as raízes existirem, o praticante corre o risco de ‘cair’ pelos degraus alcançados, deixando-se envolver pelo apego novamente.
Quando o praticante percebe purusa, tem o perfeito domínio dos desejos, vivendo sua vida sem possuir o desejo insáciável por nada do mundo material, por entender que tudo no mundo material é temporário e não deve ter tanta importância como tinha antes.
Atingindo kaivalya, o praticante naturalmente se estabelece em para-vairagya que é uma característica de purusha. Este vairagya, baseado na destruição de avidya (‘ignorância’) e na compreensão de que tudo está em purusha, é a mais elevada forma de vairagya. Aqui, as raízes de vairagya não mais existem, portanto o praticante não corre mais o risco de de se apegar novamente ao objeto de seu desejo.
Observe os sutras a seguir:
I-15 Drstanusravika-visaya-vitrsnasya vasi kara-samjna vairagyam
A consciencia de perfeito domínio (dos desejos) no caso de alguém que tenha deixado de ansiar por objetivos vistos ou nao vistos (escutados) é vairagya.
1-16 Tat param purusa-khyater gunavaitrsnyam
Este é o mais elevado vairagya, no qual, devido ao percebimento do purusa, cessa (torna-se indiferente) o mais leve desejo pelos gunas.
Para entendermos a importância de vairagya na eliminação das atividades da mente, é preciso reconhecer a forma como os desejos agem em nossa mente.
Como diz o Vedanta, toda a ação vem de um desejo inicial. Até o simples ato de fica em pé, por exemplo, vem de um desejo anterior de se levantar.
Existem formas de desejo que, como por exemplo aqueles que são fáceis de abandonarmos, e aqueles que nos causam apego (dependência) pela vontade de repeti-los.
O desejo ainda pode ser por algo que te afaste do autoconhecimento ou o desejo por mais entendimento e por moksha.
Segundo os raja yogis, o desejo pode se manifestar em duas formas: APEGO E REPULSA, ou, raga e dvesha. Observe que tanto o apego quanto a repulsa, agitam e mantem nossa mente perturbada, produzindo pensamentos repetitivos, descontrolados e perturbadores.
Quando eliminamos os desejos que nos prejudicam ou prejudicam o outro de alguma forma, que nos afastam do objetivo maior que é moksha, estabelecidos em vairagya, nossas meditações evoluem naturalmente. Passamos a vibrar na frequencia do coração tranquilo, da entrega e da aceitação.
Mas, para alcançar este estado, é preciso abhyasa. Por isso os dois termos aparecem juntos no sutra I-12.
Patanjali vem nos dizer com vairagya, que devemos eliminar a atração e o apego que causam a escravidão. Esse é o ponto principal a ser alcançado aqui.
Mas então, se eu saciar meus desejos, eu estou em vairagya? Não!
Essa ausência de atração, por saciedade, preocupação com outras coisas ou afastamento dos objetos do desejo não fazem parte de vairagya. É lógico que no início o afastamento é necessário. Mas, para estar estabelecido em vairagya, o praticante deve ter contato com todos os objetos do seu desejo, sem sentir a mais leve atração.
É importante frisar que não devemos lutar contra nossos desejos. Devemos, através de viveka (o discernimento), entender o que é bom e o que não é bom em nosso caminhar.
A lógica nos ajuda a desenvolver viveka, mas é a buddhi ou, o contato com o nosso portal entre o mundo sutil e o material, que nos estabelece em viveka.
“Viveka e vairagya podem ser considerados dois aspectos do mesmo processo de dissipação da ilusão pelo exercício do discernimento, de um lado e a renúncia, de outro.” (Taimni)
Om Tat Sat
Ju Campesi