YOGA SUTRA DE PATANJALI – Parte 4 – Abhyasa

Namaskar!

Nos próximos posts vamos falar sobre duas palavras muito usadas no Yoga, que aparecem na primeira parte do Yoga Sutra de Patanjali: Abhyasa e Vairagya – prática e desapego.

Este texto é dedicado a ABHYASA. 

I-12 Abhyasa- vairagyabhyam tan-nirodhah

A sua eliminação (dos 5 tipos de modificações da mente) é obtida pela repetição (prática persistente) e pelo desapego.  (Taimni)

No texto anterior, abordamos as formas de modificações da mente e aqui Patanjali nos diz sobre como podemos dominá-las. 

Podemos traduzir Abhyasa como repetição, no sentido de repetir a prática da meditação. É também o ato de pensar e mudar aos poucos, através do intelecto.  Vairagya, é o desapego. É se convencer de que aquilo que você achava bom, não é tão bom assim e você vai se desapegando aos poucos.

I-13 Tatra sthitau yatno’bhyasah.

Abhyasa é o esforço para estabelecimento naquele (objeto específico) 
(Glória Arieira)

I-14 Sa tu dirgha-kala-nairantarya-satkarasevito drdha-bhumih

E aquela (repetição), praticada com dedicação e cuidado, sem interrupção e por longo tempo, é a base firme 
(Glória Arieira)

Abhyasa então, é aquela prática persistente, que nasce da vontade mais intensa do praticante. Quando iniciamos uma prática de Yoga mais intensa (não digo de asanas, mas das práticas internas do Yoga), devemos estar atentos às armadilhas de maya, que tentarão nos afastar da prática regular e disciplinada.
Patanjali nos fala neste sutra sobre a importância de uma base sólida para a prática. Sem base, o yogin não alcança o objetivo. Taimini em sua obra ‘A Ciência do Yoga’ nos diz que para ser categorizada como Abhyasa, a prática das técnicas de Yoga devem obedecer três pontos fundamentais:

1. Devem ser praticadas por um longo tempo.

2. Devem ser praticadas sem interrupção

3. Devem ser praticadas com devoção.

É muito comum praticantes que iniciam na senda do Yoga com um aparente ‘abhyasa’ e depois se enroscam nos véus de maya que afastam tais praticantes da disciplina e regularidade que são fundamentais na prática. 

Yoga é uma ciência sagrada que envolve técnicas energéticas extremamente fortes e de certa complexidade. Sem a prática constante, por longo tempo e sem interrupção, juntamente com o entendimento de que existe uma Ordem Maior, que nos mostra que não temos o controle de tudo, não se pode alcançar estágios avançados. 

A gratidão é um ponto importante, pois eleva nossa vibração para a frequencia do amor, que acelera o processo de evolução. É muito fácil sentir gratidão quando descobrimos que estávamos perdidos e sem memória, mas finalmente encontramos o caminho de ‘volta para a casa’. Mesmo estando no início da estrada, a sensação de satisfação e contentamento proporcionada pelo despertar do praticante, o auxilia a vibrar em Bhakti, o aroma doce e suave da devoção. 

Observados os três pontos descritos acima, o praticante está estabelecido em Abhyasa. 


Neste momento, abro espaço para falar sobre os praticantes. Infelizmente a maioria dos que iniciam a prática do Yoga, desistem no caminho. Poucos são impedidos de praticar por ter como obstáculo um karma. Grande parte desiste por completo diante das dificuldades e dores que surgem na tentativa de lapidarem a si mesmos. Outros, continuam a praticar de maneira superficial, mantendo a aparência de yogis, mas preferindo não se esforçar pelo objetivo maior. Esses praticantes se deixam levar pelas vontades materiais, acreditando que não possuem a força ou condições necessárias para continuar a prática. Na verdade o que falta neste tipo de praticante, é a maturidade espiritual, que se desenvolve naturalmente (em cada ser no seu tempo).
É preciso coragem e perseverança para se manter um praticante de Yoga. É preciso sair da zona de conforto, abandonar hábitos, viver fora da frequência da maioria… e isso dói no início. Somente os persistentes continuam.

Analisando os três pontos que caracterizam o Abhyasa, o primeiro diz que é necessário praticar por um longo tempo. Isso porque para nos lapidarmos, é necessário a repetição das técnicas e auto estudo diário.
Mas, quanto tempo será esse ‘longo tempo’? Depende de três fatores:

a) o estágio evolutivo do praticante;
b) o tempo que já praticou nas vidas anteriores;
c) os esforços que o praticante faz na vida atual.

Uma pessoa que domina bhakti pode entrar em samadhi sem praticar as técnicas do Yoga, mas isso é muito raro. Geralmente os samskaras do passado não permitem que um praticante entre em samadhi sem antes se dedicar à pratica das técnicas do Yoga com regularidade e disciplina. A velocidade da evolução na prática acontece normalmente para aqueles que se dedicaram ao Yoga por muitas encarnações. Os praticantes devem se dedicar ao Yoga sem pressa em alcançar seus resultados e sabendo que podem colher frutos após muitas vidas de dedicação.
Guruji Paramahansa Yogananda dizia que devemos nos comportar como se estivéssemos cuidando de uma semente que foi colocada na terra para germinar: se ficarmos ansiosos, retirando a semente da terra para ver se começou a brotar, vamos atrapalhar seu crescimento. Devemos agir desta forma com nossa prática: sem ansiedade – com entrega, confiança e gratidão pelo caminhar.

O segundo ponto característico de Abhyasa é não interromper a prática.
O motivo é simples: para modificarmos hábitos enraizados, que chamamos de samskaras (que são como sulcos cerebrais, impressões e tendências que influenciam nossas escolhas), devemos caminhar durante um longo tempo em direção ao hábito oposto. Isso consome grande energia e esforço porque precisamos alterar a frenquencia vibratória em que nos encontramos. Quando temos um hábito negativo enraizado, estamos vibrando em uma baixa frequencia. Quando substituímos nosso mau hábito por um bom hábito, elevamos nossa frequencia vibratória. Essas frequencias elevadas protegem o praticante de continuar a praticar seus maus hábitos, pois são frequencias distintas. Mas,  no início da prática, qualquer ‘escorregão’ do praticante o leva de volta à frequencia baixa, e como esta frequencia era familiar, acaba se instalando novamente, fazendo com que o praticante perca todo o progresso adquirido ao longo do tempo através do seu esforço. Quando o praticante está se mantendo há muito tempo na frequencia elevada, fica mais difícil ter alguma recaída: ele é protegido pelas altas vibrações de seus pensamentos e atos.

E quanto à terceira característica de Abhyasa, a devoção na prática é essencial. Yoga é uma ciência sagrada e merece respeito e seriedade de quem a pratica. Todos podem praticar, mas a continuidade só será permitida àquele que reconhece o Yoga como uma benção e não como um passatempo.
Volto a lembrar que Yoga não é algo que podemos ‘fazer’ e continuar a viver da forma como bem entendermos. O Yoga é vivido por quem o pratica. Uma vida de Yoga é fruto de um amadurecimento interior, e esse amadurecimento acontece naturalmente. Ninguém pode decidir ter uma vida de Yoga sem estar naturalmente apto a isso.

Taimni, em sua obra A Ciência do Yoga diz:

“O sadhaka comum, especialmente o iniciante, que tenta combinar os dois ideais (Yoga e atividades mundanas), sem dúvida está destinado a ser tragado por seus desejos e atividades mundanos e procurar a senda do Yoga apenas nominalmente.”  

Taimni diz que o praticante pode carregar hábitos de vidas passadas que choquem com o caminho do Yoga. Mas assim que forem detectados, devem ser eliminados, um a um, até que o praticante esteja purificado e com a visão em um único ponto: a libertação final.

Quando essas condições estão presentes na vida do praticante, podemos dizer que ele está estabelecido em abhyasa e desta forma, o objetivo final será alcançado, mais cedo ou mais tarde, dependendo da bagagem karmica de cada um.

No próximo texto falaremos sobre a segunda palavrinha abordada hoje: vairagya.

Bons estudos!
Namaste

Ju Campesi

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