YOGA SUTRA DE PATANJALI – PARTE 10 – VIKSHEPAS

Namaskar!

Dando continuidade ao nosso estudo sobre Yoga Sutra de Patanjali, neste texto abordaremos os obstáculos que causam a distração da mente do sadhaka. (praticante)

I.30 vyadhi-styana-samsaya-pramadalasya-virati-bhranti-darsanalabdhabhumi-katvanavasthitatvani cittaviksepaste’ntarayah.
Doença, apatia, dúvida, negligência, preguiça, mundanalidade, visão errada, instabilidade, falta de continuidade, estes causam a distração da mente e são seus obstáculos. 



Neste sutra, Patanjali apresenta os obstáculos – ANTARAYAH – que devem ser eliminados pelo praticante de yoga. Tais obstáculos causam vikshepa, a distração da mente.

A mente do homem comum possui duas características que são encontradas na maioria das pessoas:

1 – falta de objetivo
2 – atenção voltada para o exterior.  

Analisemos a primeira característica: falta de objetivo. O homem comum vive sua vida como se as situações acontecessem ao acaso. Ele deixa a vida o levar, sem um objetivo maior. Por não ter um objetivo maior, a força de vontade deste homem comum, vai se esvaindo.
O yogi, ao contrario do homem mundano, deve possuir força de vontade para que ele atinja seu objetivo. A firmeza de propósitos do yogi deve ser maior do que a de qualquer objetivo mundano, pois a vida de Yoga possui muito mais dificuldades do que a de um empreendimento comum: lidar com obstáculos de alta dificuldade, lidar com o desconhecido, com o lapidar de si mesmo é tarefa que requer extraordinária firmeza.
Como foi dito em textos anteriores, sem a força de vontade extrema, o yogi mais cedo ou mais tarde acaba se perdendo no caminho.

Quanto à segunda característica da mente comum, é muito fácil entender e detectar o interesse do homem pelo externo. Desde pequenos somos estimulados a manter a mente nas distrações que existem fora de nós mesmos. A visão da vida criada por maya é tão atrativa, que acabamos nos esquecendo de que dentro de nós existe um mundo muito mais interessante e real, que precisa ser explorado. Sem esse ensinamento nos primeiros anos de vida, o ser humano comum precisa despertar  sozinho a sua memória para a prática do Yoga e iniciar o trabalho árduo de disciplinar sua mente para que ela se volte para o interior. Quanto mais tempo o homem demora para iniciar este treinamento, mais  enraizados os maus hábitos se tornam.
Aqui abro aspas para salientar a importância da orientação dos pais na vida de seus filhos. Se você é um praticante de Yoga, deve guiar seus filhos desde muito cedo, a iniciarem a caminhada nesta senda, de maneira superficial, gentil e amorosa. Com o passar dos anos, se o interesse pelo entendimento de si mesmo surgir, você poderá encaminha-lo ao estudo de Vedanta. Mas o questionamento deve surgir naturalmente em seu filho, caso contrário, não haverá proveito no estudo e pode até ser prejudicial, como disse nossa mestra Gloriaji.

Patanjali classifica as distrações da mente (vikshepa) em nove, conforme descrevo resumidamente a seguir:

1. Doença: o caminho do Yoga deve ser constante, disciplinado e sem pausas. Um corpo sadio possui muitas dificuldades em se manter firme na prática. Muitas vezes estamos cansados ou com a mente agitada por alguma situação… mas, com o corpo em perfeita saúde, é possível ter a força necessária para a regularidade na prática. Um corpo doente terá muito mais dificuldades de conseguir manter uma prática regular. É logico, que tudo depende da gravidade da doença e da força de vontade do praticante. Mas, de forma geral, é impossível praticar Yoga de maneira disciplinada estando doente.
Patanjali não diz que o yogi deve se exercitar de alguma forma, mas é implícito no ensinamento do Raja Yoga que o praticante se dedique a alguma atividade física para manter a saúde e a coluna ereta para que a energia flua pelos canais energéticos principais durante a prática. É lógico que alguns praticantes não precisam se preocupar com isso, mas um programa de asanas do Hatha Yoga aliado a uma alimentação saudável no estilo ayurvedico, é muito indicado para quem deseja manter a boa saúde.

2. Apatia: fraqueza, desânimo sem motivo… algumas pessoas aparentemente saudáveis possuem essas características que os impedem de se dedicar ao Yoga. O que falta a essas pessoas é prana, a energia vital. Este obstáculo pode ser eliminado adotando algumas práticas diárias saudáveis, como caminhadas em contato com a natureza, exercícios de energização do Yoga, técnicas de Hatha Yoga, banhos de sol de 10 a 30 min, alimentação satvica como frutas orgânicas da estação. Essas medidas farão com que o yogi recarregue seu prana, ganhando força natural e energia para viver.

3. Dúvida: “será que existe realmente um objetivo a ser atingido?”; ‘será que esses métodos são eficazes mesmo?’ ; “será que não estou perdendo meu tempo?” Essas e outras questões podem surgir na mente do praticante do Yoga. Por isso, para que seu objetivo seja firme, o praticante deve estudar com um professor que pertença à tradição vedica. A tradição vedica é mantida fielmente e cada professor transmite os ensinamentos da forma como recebeu de seu professor, que recebeu de seu professor e assim por diante, até chegar ao primeiro professor, Adi Shankaracharya, o grande sábio monista. Essa é a garantia de um estudo com resultados, pois foi testado por muitos yogis que alcançaram moksa, provando então que o método é correto.

4. Negligência: muitas pessoas são negligentes em suas vidas e quando iniciam a prática do Yoga, carregam essas características com elas. Realizar um trabalho sem atenção, faz com que a pessoa nunca se torne realmente um bom profissional. Isso já é um grande prejuízo e perda de tempo. Mas, quando se trata da prática do Yoga, a negligência é muito perigosa. Muitas técnicas de Yoga, se realizadas de maneira errada e sem atenção, resultam em danos ao praticante.  A prática do Yoga não deve ser levada como uma brincadeira ou um passa-tempo. Trata-se de uma ciência sagrada da mais alta importância e deve ser tratada como tal.

5. Preguiça: a preguiça difere da apatia pois normalmente o preguiçoso possui vitalidade em seu corpo físico. O que falta a ele é a vitalidade mental. Qualquer pensamento de esforço é automaticamente evitado pelo medo do cansaço ou de não se achar capaz de realizar tal atividade. A cura da preguiça é alcançada com um programa de tarefas prolongadas, duras e difíceis. Somente assim o ser humano consegue realmente superar essa distração.

6. Mundanalidade: quanto maior o interesse do homem pelo externo, mais ele se torna dominado pela frequencia que envolve a maioria, que é a de realizar os seus desejos. Ser mundano é dar mais importância à matéria do que ao mundo sutil. É acreditar que se deve ‘aproveitar’ ao máximo tudo o que a vida oferece, afinal, é somente ela a realidade. Para que possamos sair da frequencia da mundanalidade, devemos modificar nossos hábitos externos primeiramente, abandonando atividades comuns: assistir tv, ficar horas no celular, ter relações sexuais em excesso, se alimentar com alimentos industrializados e cheios de agrotóxicos, entrar em discussões políticas… etc.. Devemos substituir essas práticas citadas acima por outras, realizadas pela minoria: trocar a tv e o celular pelo contato com a natureza, ler livros e ter conversas edificantes, ter relações sexuais somente por amor e com moderação, consumir alimentos orgânicos, naturais e cheios de prana… Somente assim o praticante vai escapando da atração que a vontade da maioria exerce sobre ele.

7. Visão errada: o yogi que se deixa ser iludido/distraído pelas  primeiras sensações que surgem da prática do Yoga, deixa de ter a força para continuar sua prática pois acredita ter alcançado uma grande evolução como yogi. É preciso estar atento e ter orientações durante a prática. Por isso um guru é tão importante.

8. Instabilidade: muitas vezes o yogi ao passar para um novo estágio da prática, sente muita dificuldade em se manter nessa nova etapa. Novas técnicas e considerável aumento na quantidade de horas praticadas faz com que muitos não consigam se manter na nova etapa, regredindo ao estágio anterior. Por isso é importante a firmeza de própósito e a força de vontade em seu máximo grau. Somente assim é possível suportar a carga que novas práticas acrescentam na vida do praticante.

9. Falta de continuidade: desviar-se da meta é um grande obstáculo que pode ser eliminado por grande força de vontade e entendimento sobre os resultados que a prática do Yoga oferece. O yogi que se deixa levar pela inconstancia da prática não consegue prosseguir no caminho do Yoga. Por isso é importante disciplina e que o yogi siga um método bem elaborado e aprovado por antigos yogis: essa é uma grande motivação.

Além dessas nova causas de distrações da mente, Patanjali cita no Yoga Sutra, vários outros obstáculos que devem ser superados pelo yogi para se alcançar seu objetivo.

I. 31 duhkhadaurmanasyangamejayatvasvasaprasvasa viksepasahabhuvah 
Sofrimento, negatividade, agitação do corpo e respiração difícil são sintomas de uma mente dominada por distrações. (Taimni)

Neste sutra, Patanjali nos ensina a reconhecer as agitações da mente através de sintomas.

1. Dukha: Sofrimento – a tristeza
2. Daurmanasya: negatividade (ser pessimista!)
3. angamejayatva: agitação do corpo
4. svasaprasvasah: respiração agitada.

Quando vemos que a mente está agitada, temos que trazer o oposto, mas primeiro temos que reconhecer a agitação, a causa.

Na sessão II falaremos sobre a teoria dos klesas, que nos ensina sobre o sofrimento humano. 

Om. Tat. Sat.
Ju Campesi

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