Tenho muitas memórias especiais de quando passei mahaśivarātris na Índia. A mais recente é a de fevereiro de 2020, um pouco antes da pandemia. Guiei um grupo de alunos em algumas cidades indianas e após me despedir deles em Delhi, fui para Ranchi e Calcutá, onde permaneci em āśrams do meu amado mestre Yogananda e participei dos rituais para Śiva. A rotina do āśram reforça meu sādhana. Lembro que no momento da pūjā no āśram do Yogoda Satsang do meu mestre, fui convidada a subir uma escadaria e no topo do āśram encontrei um local sagrado, o Śiva Mandir (templo de Śiva) com um lindo Śiva linga e a vista de Ganga Ma, o rio Ganges. O pujari fez a pūjā completa com ābhiṣeka e no final formou-se uma fila para que nós devotos também fizéssemos o ābhiṣeka no Śiva linga. Foi mais um dos momentos inesquecíveis que passei na Índia. Depois, recebi a prasāda e a benção do Swami e me sentei para ouvir os bhajans para Śiva, ao som da tabla. Aqui no Brasil faço meu sādhana normalmente, pūjā e ābhiṣeka no Śiva Linga, passo o dia em jejum sempre que estou saudável e canto mantras para Mahādeva (Śiva). Se você é nova(o) no Yoga e quer se conectar com esta energia neste dia especial, você pode fazer algo mais simples como estabelecer que vai fazer algumas voltas de japamālā cantando mentalmente 'Om namaḥ śivāya' (leia: ôm námáxiváia), acender um incenso para Śiva, cantar este mesmo mantra em voz alta algumas vezes, fazer uma meditação utilizando o símbolo de Śiva, que pode ser uma imagem, ou mesmo a repetição inicialmente oral e depois mental do mantra de Śiva. Com certeza você vai se sentir conectada(o) com esta energia que envolve tantos devotos no dia de hoje no mundo todo. Sugestão de prática para o mahaśivarātri: Sente-se em uma postura confortável, posicione as mãos em añjali mudrā e repita três vezes o mantra Om em voz alta. Agora, relaxe os braços e feche os olhos suavemente. Faça três respirações bem profundas e solte totalmente as tensões toda vez que expirar. Agora, observe seus pés e pernas e relaxe, solte a musculatura tensa. Observe seus ombros e braços, mãos e dedos e relaxe. Solte totalmente as tensões. Observe seu tronco e mantendo o abdômen suavemente contraído para que sua coluna se mantenha firme, relaxe toda a musculatura restante. Observe toda a região da sua cabeça e relaxe principalmente a testa e a parte interna da boca. Solte os maxilares. Relaxe. Mantenha por alguns minutos a atenção no fluxo natural da sua respiração. Você não quer controlar a respiração, apenas observá-la. Agora, inicie a repetição em voz alta do mantra: "om namaḥ śivāya, om namaḥ śivāya, om namaḥ śivāya..." continuamente e ritmicamente. Vá abaixando o som da sua voz até que a repetição se torne mental. Mantenha a atenção no mantra. Depois de um tempo, observe os intervalos entre os mantras. Existe o mantra, o silêncio, o mantra, o silêncio... Observe o silêncio e continue fazendo japa, repetindo o mantra. Quando sentir que deve finalizar, faça seus agradecimentos aos mestres, à Śiva, aquele que é o primeiro yogi e à você mesma(o) por ter reservada(o) este tempo para o autoconhecimento. No próximo post, compartilho a tradução de uma pūjā mental, chamada Śivamānasapūjā, de Adi Śaṅkarācārya, que foi um dos maiores sábios, a encarnação de Śiva, conhecido como Śiva Śaṅkara, nosso grande mestre. É uma oferenda feita mentalmente e para tanto, requer uma mente minimamente treinada para a concentração. Mesmo que você não tenha treinado sua mente, vale a pena ler o texto, que é lindo e emocionante. Que Śiva nos abençoe com entendimento, clareza e muita força, para que o objetivo do Yoga seja alcançado. Om. Tat. Sat. Om namaḥ śivāya. Om namaḥ śivāya. Om namaḥ śivāya. Texto: Juliana Campesi Meu grande amigo yogi Amit Ram, no Himalaia.