YOGA SUTRA DE PATANJALI – PARTE 11 – CITTA PRASADANA

CITTA PRASADANA: a tranquilidade da mente.


Relembrando, no sutra I.30, Patanjali utiliza o termo citta-vikshepa, que é a agitação da mente. No sutra I.33, ele nos apresenta o seu oposto: citta prasadana, ou seja, a tranquilidade da mente.


A partir do sutra 1.32, até I.39,  Patanjali nos diz como o yogi pode ter a mente tranquila.

1.32 tatpratisedharthamekatattvabhyasah
A repetição da verdade única serve para eliminar esses obstáculos. 
(obstáculos para a aquisição da mente tranquila)  (Glória Arieira)

Aqui, Patanjali novamente nos fala sobre abhysasa, a repetição. O yogin deve manter a repetição de eka-tattva, a verdade única, que é Ishvara no sentido de refletir e meditar até que tenha assimilado totalmente essa verdade. O yogin que tem a mente tranquila, repousou sua atenção em Ishvara.
Isso é alcançado através da repetição da Meditação em Om, como Patanjali diz anteriormente. A repetição da técnica utilizada para entrar em estado meditativo, deve ser constante, diária e disciplinada. Só assim o praticante alcançará o estado de mente tranquila.

1.33 maitrikarunamuditopeksanam sukhaduhkhapunyavisayanam bhavanatascittaprasadanam
A mente torna-se tranquila pelo cultivo de atitudes de simpatia, compaixão, alegria e indiferença diante da felicidade, miséria, virtude e vício, respectivamente.

O yogi sempre irá se relacionar com alguém. Seja o não renunciante, que convive com sua família, amigos e em sociedade, seja o renunciante, que convive com seu guru, ou com outros renunciantes que habitam na mesma região, por exemplo. É muito raro um ser humano viver totalmente isolado, apesar de ser possível. Diante disso, Patanjali orienta o yogi quanto as reações que podem surgir em seu relacionamento com aqueles entre os quais vive. 
Uma das maiores fontes de perturbação da mente são as reações descontroladas diantes das situações que vivemos com outras pessoas. Infelizmente não é possível prever a ação do outro, e muitas vezes somos pegos de surpresa em situações desagradáveis. O homem comum não possui ferramentas para controlar suas reações diantes de fatos negativos. Ele reage segundo o seu humor, seus hábitos e caprichos, sendo desta forma perturbado por emoções descontroladas e reações violentas. Em outras palavras, Patanjali diz que o equilíbrio mental é necessário ao praticante de Yoga. Somente assim ele terá a mente tranquila. 
Patanjali diz que o yogi precisa ter simpatia diante da felicidade do outro, compaixão diante de situações difíceis que o outro esteja passando, alegria diante da virtude do outro e indiferença diante daqueles que estão presos aos vícios. Adotando essas posturas, a mente do yogi torna-se tranquila e ele se livra da inveja, do ciúme, do sentimento da superioridade e da crueldade.
Aqui, encontramos mais um ponto de controvérsia entre os comentaristas da sagrada obra: a questão da indiferença aos irmãos que estão presos a Tamas, e consequentemente aos vícios (de todos os tipos).

Alguns comparam os praticantes de Yoga com yogis auto-realizados, o que gera confusão. Yogis auto-realizados possuem o poder de modificar situações. Eles possuem total domínio de si mesmos e portanto não são afetados por influências externas. Já o praticante, deve evitar más companhias e pode até tentar ajudar aqueles que estão perdidos nos vícios, mas com muita cautela. Os praticantes ainda não ‘queimaram’ totalmente as sementes dos karmas passados. É possível que ao tentar ajudar um irmão viciado, uma dessas sementes brote e o yogi se perca no caminho.
Diante disto, é recomendado ao praticante que evite a companhia desse tipo de pessoa, sem mostrar desaprovação ou simpatia. Qualquer atitude contra ou à favor pode ser desastrosa. Aqui, a indiferença é o melhor caminho.

Pratipaksha-bhavana é o exercício de trazer o pensamento oposto à reação negativa imediata. Por exemplo: vejo a felicidade de alguém. Como o sentimento da maioria é o de sentir inveja nessas situações, rapidamente entro na frequência vibratória da inveja. Mas o yogi tem que ser atento. Ao perceber o mínimo indício da emoção negativa, imediatamente deve nutrir um sentimento oposto a este: o de se colocar no lugar do outro, lembrar que somos almas irmãs e assim, sentir alegria pela alegria do outro.Com a repetição, este exercício passa a ser natural e o yogi consegue bloquear a negatividade antes de deixar com que ela aponte.

No exemplo dado, devemos nos atentar ao fato de que quanto mais felizes estivermos, menos somos atingidos por baixas frequencias vibratórias. Mas quando estamos tristes, preocupados, com medo, por exemplo, deixamos nossa frequencia cair, e somos facilmente atingidos por energias negativas.


I.34 pracchardana-vidharanabhyam va pranasya
ou pela expiração e retenção da respiração.

Patanjali cita a técnica pranayama no sutra II-49-53. Aqui, ele diz que através de algum tipo de exercício respiratório é possível tranquilizar a mente. Mas que fique bem claro: Patanjali não cita o tipo de pranayama. 
A respiração possui uma intima conexão com os pensamentos. Quando temos a respiração agitada, nossa mente está descontrolada, nos jogando para o passado e para o futuro, não permitindo que nos concentremos no momento presente. Quando nossa respiração está tranquila, nossa mente está mais clara e é mais fácil controla-la se assim for o nosso desejo. 
O inverso aqui também é verdadeiro. A mente agitada deixa nossa respiração ofegante  e a mente tranquila, deixa nossa respiração suave. 
Através do pranayama, o yogi alcança pratyahara, conseguindo retirar a atenção do externo e a colocar no interno. Esse domínio é indispensável para que se alcance um estado meditativo.


I.35 visayavati va pravrttit utpanna manasah sthiti-nibandhani
A contemplação de um objeto ajuda a estabelecer firmeza na mente. 


Colocar a atenção em um objeto é um treinamento para a mente. Toda vez que tentamos manter o foco em um objeto, disciplinando a mente para se manter fixo nele, observando quando a mente se distrai e voltando a atenção com gentiliza ao objeto da concentração, estamos em um treinamento que vai tornando a mente firme. Ter a mente firme é conseguir mante-la com foco em algo. A mente fraca é jogada ao passado, ao futuro e forma uma infinidade de imagens em nossa tela mental, ao mero contato com as sensações vindas dos sentidos. 
Ter a mente focada em um objeto, traz tranquilidade pois o fluxo de pensamentos diminui sua velocidade.

I. 36 visoka va jyotismati
ou (pela contemplação) da luz que é livre de sofrimento 

Aqui Patanjali diz que através da contemplação da luz da Consciência, que é livre de qualquer sofrimento e é a base da mente, o yogin alcança a mente tranquila. 
Para se alcançar esse objetivo, o yogin inicia contemplando um objeto que simbolize Isvara, com a vontade de alcançar a luz interior. 

I. 37 vitaragavisayam va cittam 
também a mente fixada naqueles que estão livres de apego (adquire firmeza) (Taimni)

Mais uma forma de tranquilizar a mente é a de se concentrar em algum yogin auto realizado. Este yogin pode ser um guru, como por exemplo Paramahansa Yogananda, ou uma das encarnações divinas, como Bhagavan krishna por exemplo. Quando colocamos a atenção em algum desses seres de luz, nos conectamos com eles e suas qualidades, sendo extremamente benéfico para todos os níveis de praticantes. 

I.38 svapna-nidra-jnanalambanam va
também pela contemplação (da base) de conhecimentos obtidos durante o sono e sonhos (adquirirá firmeza)

O praticante deve se manter contemplando a ‘base’ que existe entre sonho ou não sonho. Essa ‘base’ é imutável (alambana). Não importa se a mente está sonhando ou sem sonhos, essa ‘base’ sempre será a mesma. É nela que, quando o yogin contempla, a mente se tranquiliza. 

I.39 yathabhimata-dhyanad va
ou pela meditação naquilo que é amado. (Gloriaji)

Após citar alguns métodos utilizados pelos yogis para a prática da meditação, Patanjali finaliza dizendo que o praticante pode escolher qualquer objeto que desperte o amor, para tranquilizar a mente.
Isso é um truque, não uma técnica. O objetivo é só dar uma pausa para a mente diante de uma situação tensa. Mas depois, através deste foco no ser amado o yogi descobre que a fonte do amor é o Eu ilimitado.

Todas essas alternativas citadas são apenas emergenciais. Acalmam a mente momentaneamente, para que possamos pensar na melhor forma de agir.

Os sutras I.33 a I.39 são considerados instruções para meditações. 

I.40 paramanuparamamahattvanto’sya vasikarah 
Sua maestria se estende desde o átomo mais ínfimo até a grandeza infinita. (Taimni)

Patanjali diz que através das práticas sugeridas nos sutras I.33 a I.39, a mente alcança uma sutileza no conhecimento e no entendimento, podendo penetrar nas coisas mais sutis e em todo o universo. 
Na sessão III, Patanjali cita alguns poderes adquiridos através da prática do Yoga, poderes esses que devem ser deixados em segundo plano, priorizando sempre a liberação, kaivalya. Estudaremos em breve esse tema. 
Aqui Patanjali comenta sobre o quão poderoso pode se tornar um raja-yogi.

Om. Tat. Sat.
Hari Om


Ju Campesi


























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